Freud, em 1904, afirma que a psicanálise é uma psicoterapia (‘O método psicanalítico de Freud’). Mas é preciso cuidado para compreender que o que ele chamava de psicoterapia na época não é como a entendemos hoje.
Psicoterapia era um método na medicina para curar as doenças nervosas (neuroses — histeria, melancolia, entre outras, que não tinham causas físicas) por meios psíquicos e não físicos.
Para as neuroses, Freud recomendava a psicoterapia, como tratamento psíquico — uma conversa terapêutica que se opunha aos métodos físicos daquele tempo, como banhos medicinais, eletroterapia e outros.
A psicoterapia se diferenciava das outras formas de tratamento ao tratar o psíquico por meios psíquicos e não por meios corporais.
Mas, logo, a psicanálise se torna uma forma de abordagem independente devido às suas particularidades e método clínico para investigar e tratar as afecções mentais.
Entenda melhor nesse texto.
Da hipnose à psicanálise
A primeira modalidade de psicoterapia foi a hipnose, onde, por meio da sugestão, o terapeuta dizia ao paciente o que ele deveria fazer para se livrar dos sintomas que o incomodavam.
Acontece que a sugestão não resolvia o conflito — como não resolve até hoje — mas o silenciava e, ao suspender o tratamento, retornava, às vezes agravado.
A partir de seus estudos sobre a histeria, Freud desenvolveu a hipótese do inconsciente, explicando a origem dos sintomas neuróticos e criou a psicanálise, onde a sugestão é desaconselhada, abandonando a hipnose de vez.
Os dispositivos analíticos usados na psicanálise para chegar ao conflito emocional são outros, como a associação livre (falar o que vier a mente sem censura) e a interpretação. A recomendação de Freud aos analistas para protegerem a si e o paciente dos riscos da sugestão, era neutralidade e abstinência.
Diferenças entre psicanálise e psicoterapia
Psicoterapia
A psicoterapia aparece no final do seculo XIX, sobretudo na França, onde os psicoterapeutas são associados àqueles que praticam a cura pela palavra, usando hipnotismo, práticas de influência e mecanismos que vieram da educação, da religião e de práticas mágicas, misturadas com o saber cientifico da sua época.
Pode ser definida como um campo prático que aborda o sofrimento humano sem grandes preocupações diagnósticas e de fundamentações metapsicológicas, podendo ser praticada por psiquiatras, psicólogos e psicanalistas.
Freud considerava a metapsicologia (a teoria propriamente dita, que procura explicar o funcionamento mental em geral) como um dos elementos fundamentais do seu pensamento.
Uma das principais diferenças entre a psicanálise e as psicoterapias consiste no fato de se empregar ou não a teoria freudiana (ou de origem freudiana) para compreender o processo terapêutico.
Psicanálise
A psicanálise é teoria e também um método clínico, que Freud caracterizou por quatro elementos: o inconsciente, a interpretação, a resistência e a transferência (História do Movimento Psicanalítico,1914).
Estes quatro elementos são essenciais para que um trabalho clínico possa ser chamado de psicanálise. Todos os outros procedimentos, que não os empregam, definimos como psicoterapias.
Chamamos de psicanálise os métodos que trabalham com:
- dispositivos que favoreçam o desamarrar dos nós da vigilância consciente, como a associação livre;
- a interpretação da resistência, da transferência e a vinculação destas com a sexualidade infantil;
- a hipótese fundadora de que os conflitos são inconscientes, pois estão submetidos à pressão das defesas do ego.
As muitas linguagens da prática clínica
Cada terapeuta vê e ouve com base no seu entendimento sobre o funcionamento da psique. O que se espera é que ele possa, nos termos da sua teoria, diferenciar os diversos fenômenos e processos psíquicos, utilizando conceitos e hipóteses adequados para cada um deles.
É possível que todas as linhas de psicoterapia sejam precisas e ricas em seu vocabulário e forma de descrever o mundo, expressando as nuances e sutilezas da vida subjetiva. Dentre as teorias sobre o psíquico, acredito que a psicanálise seja a mais rica, flexível e sofisticada.
Ainda assim, todo trabalho clínico deve ter como base a formação do profissional, que engloba sua análise pessoal para elucidação e elaboração dos seus conflitos básicos, além do estudo da teoria e supervisão dos casos.
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Referência:
1. Mezan R. Psicanálise e psicoterapias. Estud av [Internet]. 1996May;10(Estud. av., 1996 10(27)). Available from: https://doi.org/10.1590/S0103-40141996000200005
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