A liberdade é uma palavra, um conceito, tão desejada quanto idealizada.
Para o filósofo Aristóteles, “liberdade é a capacidade de decidir-se a si mesmo para um determinado agir ou sua omissão”. Já Sartre nos diz que a liberdade é uma condição do homem, que está, portanto, condenado a ser livre, não tendo como fugir dessa responsabilidade.
No entanto Freud, faz um contraponto ao discurso filosófico quando diz que não conseguimos domar inteiramente a vida de nossos instintos sexuais e que os processos mentais são inconscientes e só se submetem à consciência e ao controle por meio de percepções incompletas e pouco confiantes.
Assim, completa, o “eu não é senhor da sua própria casa” (Freud, 1917).
Somos livres?
Pensamos que temos total controle das nossas emoções, sentimentos, pensamentos e ações. Com essa mesma ilusão, agimos exteriormente acreditando que podemos controlar a natureza e seus fenômenos e, a cada dia, vivemos os efeitos dessa audácia: aquecimento global, queimadas, enchentes…
Da mesma forma, ao desconsiderar o inconsciente, achamos que regemos nossos pensamentos e comportamentos conscientemente, ainda que muitas vezes não tenhamos explicações para angústias, medos e dores que sentimos.
Temos acesso somente a uma parte de nós — o inconsciente se manifesta, portanto, nas suas ações através dos sonhos, atos falhos, esquecimentos e chistes. Essas manifestações, ainda que enigmáticas, podem ser decifradas e oferecem pistas sobre a verdade do sujeito.
O sujeito do inconsciente é marcado por uma divisão, por uma ruptura entre os registros consciente e inconsciente e permanece sempre barrado na relação que estabelece entre saber e verdade, aquém da possibilidade de conclusão da significação em relação à verdade.
Um processo de análise visa recolher vestígios dessa verdade, através da fala, e não manter esses registros inconscientes. Cada um de nós é responsável por aquilo que é nosso, inclusive isso que escapa e que muitas vezes não se quer saber.
A ilusão do controle e a liberdade
Somos nada controladores da nossa vida, isso é uma ilusão. No entanto, quando olhamos para isso, isso que insiste e retorna, que incomoda, que está escondido, inconsciente, mas ao mesmo tempo que estrutura a nossa singularidade, podemos pensar na possibilidade de nos aproximar do que conhecemos como liberdade.
A liberdade, portanto, requer responsabilidade, responsabilidade sobre si. Liberdade não é fazer o que se quer na hora que bem entender, isso é tolice! Liberdade é poder criar a possibilidade de viver de acordo, ou pelo menos mais próximo, da sua verdade.
Você quer ser livre? Prepare-se, então, para um mergulho profundo, antes de voar.
Referências:
https://revistacult.uol.com.br/home/liberdade-e-compromisso/
MARTINS, Luiz Paulo Leitão. A questão da dificuldade da psicanálise: uma leitura do inconsciente entre negatividade e diferença. Psicol. clin. [online]. 2016, vol.28, n.1 [citado 2022-02-24], pp. 59-81 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652016000100004&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0103-5665.
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