Tem sido bem difícil escrever nessa pandemia, ainda que ela tenha um efeito de escancarar tanta coisa, em nós, como cada um, como comunidade e como seres humanos.
Nos vemos sem muito controle sobre os nossos planos. Nesse ponto em que chegamos, por querer tudo controlar, a pandemia nos coloca diante do real, nu e cru.
Falhamos enquanto nós e desconfio que seja por conta do insuportável que há em cada um. Isso que produz doenças mentais, fanatismos, egoísmos e aberrações, preconceitos e morte. Quando o que governa o ser humano é o medo.
Momento para rever
Esse momento de parada tem uma força. Sem distrações, o real nos coloca de cara com a gente mesmo. De repente, a realidade se transformou — mudanças no modo de ser, trabalhar e se relacionar provocam reflexões sobre o antes estabelecido.
Ainda bem que cada vez mais falamos de saúde mental, sobre como manter a paz e o equilíbrio — se isso é possível! — sem se esquecer que as vezes é preciso descabelar.
Sem hipocrisia, porque afinal a vida não é fácil para ninguém. Para alguns, ela se dá com muito mais dificuldade e injustiça. Para outros, com certa leveza e privilégios. Mas nada tira da pessoa a experiência do viver.
No fundo, a gente conta é com a gente mesmo. Na hora que aperta, que dói e fica insuportável é com você que precisa contar. Digo, subjetivamente, quem colhe ou sofre as consequências das suas ações é você mesmo, assim é preciso cuidar dessa relação, é preciso se cuidar.
Para tudo na vida é preciso esforço
Lembro de uma conversa com um ex chefe meu — o qual eu admirava muito — quando ele me disse isso. Trabalhávamos em uma escola de vanguarda e falávamos sobre como é importante passar essa ideia do esforço para as crianças e os jovens. O esforço relacionado aos estudos, à autonomia, para que cada aluno pudesse desenvolver a força de saber o que quer ser na vida e lutar por isso.
O que não é tão simples assim. Primeiro porque partimos de diferentes pontos, que infelizmente se regulam numa lógica social que ainda diferencia seres humanos por cor e credo e provoca injustiças sociais.
Segundo, porque muitas vezes é difícil saber o que se quer. Você sabe? No caminho existem curvas, encruzilhadas, obstáculos e muitas vezes retomamos ao mesmo lugar. Geralmente, é nessa hora que nos vemos repetindo as mesmas ações.
Por que é tão difícil mudar?
A nossa história, a forma como estruturamos e formamos nossa personalidade, pode nos colocar em um lugar rígido. Continuamos agindo e reagindo de uma maneira conhecida, que nos leva a uma certa ilusão de segurança.
Quando você se dispõe a conhecer seus furos, encarar seus traumas, suas falhas, mas também a sua potência, dá para reconhecer onde você está se repetindo. Então se dá conta que repetir as mesmas atitudes leva aos mesmos lugares. Você sabe o que precisa mudar, mas…
É aí que entra o esforço.
Segundo o dicionário, esforço é aquilo que se faz com dificuldade e empenho; trabalho, empreendimento, obra. Ou ainda, a intensificação das forças físicas, intelectuais ou morais para a realização de algum projeto ou tarefa.
Na clínica psicanalítica a gente lida com o esforço interno. Que primeiro se materializa quando alguém, diante sua vulnerabilidade, busca por ajuda. Segundo, quando esse alguém se compromete com a sua responsabilidade pela sua vida.
Terceiro, quando se inicia o jogo, a dança, a luta com seus sintomas, suas repetições, seus medos, seus desejos.
Há um esforço para reconhecer-se e um maior ainda para mudar. É preciso separar o joio do trigo, entender seus limites para superá-los. Tomar as rédeas da própria vida, muitas vezes, requer treino. Até cavalgar bem.
É preciso olhar para sua história com cuidado, com carinho, para ter paciência com os seus processos. Isso não quer dizer se acomodar, mas pensar sobre diferentes maneiras de agir, que se alinhem melhor com o seu caminho, no presente. Assim como com o futuro que almeja.
Equilíbrio para lidar com as circunstâncias que fogem do seu controle e força para partir em direção aos seus sonhos.
Sem medo, ou pelo menos que ele fique do ladinho, mas que não impeça a caminhada. O medo protege, só não se proteja demais e arrisque-se um pouco. Arriscar fazer diferente, não se deixar levar pelo que você teme, mas pelo que você realmente quer viver.
Para isso, é preciso esforço.
Se precisar de ajuda nesse caminho, marque uma consulta, vamos conversar!
Drica,
Vc está escrevendo cada vez melhor…
Quem sabe todos estes textos não viram um livro?
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obrigada Cris! 🙂
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