A escolha profissional pode ser baseada em nossas inclinações pessoais, mas geralmente, está ligada somente às necessidades.
O trabalho ocupa um lugar importante na saúde mental quando somos capazes de transformá-lo em uma fonte de satisfação. Ele, assim, é o resultado de processos essenciais para o equilíbrio psíquico, como conseguir realizar, trabalhar a partir da livre escolha.
Infelizmente, a maioria das pessoas trabalha para satisfazer as necessidades e assim se tornam avessas ao trabalho. Isso leva a importantes problemas sociais.
Neste artigo, vou falar sobre quando o trabalho pode ser fonte de satisfação e assim ocupar o seu lugar na saúde mental.
O que nossa história de vida tem a ver com nossas escolhas profissionais?
Vou te contar um pouco a minha história para que você possa refletir sobre a sua e como as nossas experiências mais íntimas se relacionam com as nossas inclinações profissionais.
Ser psicóloga e psicanalista tem a ver com o meu desejo latente de fazer algo frente a dor e ao sofrimento humano. Desde pequena, as mazelas do homem me afligem. Com os estudos, a prática clínica e a minha própria análise vou aprofundando em suas causas e apostando em uma cura possível.
Para Freud, existem três principais fontes de sofrimento que nos ameaçam:
“O poder devastador e implacável das forças da natureza, a ameaça de deterioração e decadência que vem de nosso próprio corpo (a doença e a morte) e o sofrimento advindo das relações humanas.”
Freud, em O Mal-estar na civilização.
O que você faz com o que a vida fez de você?
Ainda que não tenhamos controle sobre o que nos acontece e vivemos sob a ameaça dessas fontes de sofrimento, somos responsáveis pelo que fazemos com o que a vida nos apresenta.
A gente não escolhe as circunstâncias em que viemos a esse mundo, muito menos temos o controle sobre as coisas que nos acontecem. No entanto, podemos e devemos reconstruir a nossa história.
O que isso significa? Dar a ela novas matizes e significados para que possamos nos tornar ativos e não escravos da nossa própria história. Em resumo, é sair do papel de vítima e ser autor da própria vida, escrever o próprio roteiro e fazer as melhores escolhas.
Como fazer boas escolhas?
Somos únicos, por isso tão diversos. O que toca cada um, tem a ver com as experiências pessoais, que são únicas. Ainda que dois seres humanos vivam experiências semelhantes, o que atravessa cada um sempre será particular.
Escolher bem é encontrar satisfações em nossas escolhas, sejam elas pessoais ou profissionais. Compreender os atravessamentos e o que as motiva, requer uma pesquisa de si, que passa pelo cuidado de si.
Prefiro sempre falar de cuidado de si — usando o conceito desenvolvido por Foucault — do que em autoconhecimento, pois este pressupõe que exista um objeto a ser conhecido — no caso, nós mesmos.
O cuidar de si é o que um processo analítico propõe — sugere uma atitude, uma forma de olhar atento, uma pesquisa constante sobre si.
Somos universos em convivência
Não há como pensar em si, sem considerar o outro. A nossa liberdade está em constante conflito com o outro, seja esse outro o seu chefe, os seus pais, o seu namorado(a), o sistema, o presidente, enfim, o nosso existir está sempre em conflito com o outro.
Compreender isso, aceitar os limites e respeitá-los já é um indício de saúde mental. A internalização das leis básicas de convivência em sociedade, pressupõe que colocamos barreira aos nossos desejos e nos insere na cultura.
Como a psicanálise pode ajudar?
Um dos motivos que leva uma pessoa a fazer análise é pelo sofrimento causado pela incapacidade de amar e trabalhar. Isso porque amar e trabalhar são formas complexas de formar compromisso, pois precisamos reunir exigências internas e externas, implica desejo, fantasia e o que faz sentido.
A psicanálise não é adaptativa, mas propõe uma construção da formulação do próprio desejo, para que então se possa buscar um lugar no mundo para ele. Quando o trabalho e os relacionamentos não são capazes de ocuparem um lugar de realização, de satisfação, a pessoa experimenta angústia e sofrimento.
Nós psicanalistas queremos recuperar algo dessa capacidade de realização e de fruição. Realização no sentido de fazer, realizar, trabalhar. Fruição no sentido de aproveitar e deixar-se levar. A capacidade de trabalhar e amar.
Um processo de análise tem a ver com o sujeito ter a coragem de se deparar com o seu desejo e de sustentá-lo. Um caminho do desejo de reconhecimento ao reconhecimento do desejo.
Somos sujeitos divididos, incompletos, portanto, desejantes. A falta produz o desejo, que leva ao movimento e à busca por satisfação, ainda que sempre incompleta. No entanto, o desejo é conflito, ele vem misterioso e enigmático, por isso fazemos análise.
O que te impulsiona, o que te move?
A resposta para essa pergunta será sempre uma aposta, e as pistas um processo terapêutico ajuda a coletar. Enquanto a escolha profissional não estiver em consonância com a nossa capacidade de realizar nossas inclinações, o trabalho não ocupará o lugar de fonte de satisfação.
E você? Qual lugar o trabalho está ocupando em sua vida? Se quiser conversar sobre isso, entre em contato comigo.
Este é o primeiro de uma série de três artigos sobre o tema: o lugar do trabalho na saúde mental, criado a partir de uma palestra realizada por mim na empresa Resultados Digitais. Se quiser receber os próximos, deixe seu e-mail abaixo. (a frequência é semanal!)
Um comentário em “Escolha profissional: o que te leva a fazer o que você faz?”