Sempre leio essa frase, escrita de diversas formas e de autoria desconhecida: “Pode até esperar, mas espere vivendo!”. Geralmente, ela surge quando o tema é amor-próprio, ou expectativas nas relações amorosas, ou querer que a pessoa seja como você queria que ela fosse. E esperar que ela mude.
Essa frase me faz rir, porque parece óbvio e é, mas nem tanto.
A palavra espera pode ter uma conotação passiva, quando diz sobre aquele que fica parado esperando. Sabendo como é difícil (ou quase impossível) não criar expectativas, não se trata de uma imposição do tipo “não faça isso, não espere nada”, mas sim, uma forma de transformar essa “espera”. Ou o olhar sobre ela.
Tornar a espera ativa é fazer algo com isso que não vem do outro, que não completa, que não se encaixa nas suas idealizações. E esse “algo” é Viver! É sobre isso que vim falar hoje.
Idealizações x Realidade
Todo relacionamento pede entrega, o que se torna difícil quando você se vê capturado pelas idealizações. O amor romântico, esse que prega que existe a metade da laranja ou a tampa da sua panela está com os dias contados.
Isso não quer dizer o fim do encontro, do cuidado, nem das relações. Mas a necessidade de lançar um novo olhar sobre elas (e sobre nós mesmos) sob uma perspectiva menos idealizada. É saber que em uma relação amorosa o que é de cada um (história, traumas, desejo, fantasia…) está em cena, em jogo.
A paixão pode dar a impressão que o outro se encaixa nas nossas projeções. Á medida que essa ilusão se desfaz, e vamos conhecendo melhor o(a) parceiro(a), como é (e não como gostaríamos que fosse) percebemos que não há encaixe perfeito. Sempre falta.
Negar a existência da falta, fingir que ela não existe e imergir na ilusão da completude é tapar buracos. A falta é escancarada nos relacionamentos e se manifesta em insegurança, cobranças, brigas e desilusões.
“Se Eros nasce de uma aspiração impossível, que é de dois fazer um, o ser humano inventa o mito do amor, sustentado na promessa de felicidade. E, enquanto isso não vem, o bem se transforma em mal, inaugurando uma escola de amor infeliz.” Nadiá Paulo Ferreira
Ainda bem que não completa
Não completa, não fecha, e ainda bem que é assim.
O que está acabado, completo, morreu, está pronto. Enquanto há vida, há movimento e o que nos movimenta é a falta, causa de desejo.
O espaço vazio é o que permite o movimento. Os moinhos de vento giram com o ar que entra pelas frestas e empurra suas hélices, gerando energia.
Não haverá completude, a falta sempre vai estar, e só assim o desejo pode existir. Como lidar com ela é, talvez, o nosso maior desafio.
Compreender o que está em jogo nas relações amorosas, re-conhecer as suas idealizações e tentar separá-las do que realmente é importante (e possível). É sobre se perguntar sobre ISSO que você busca no outro.
Isso diz sobre você.
I can’t get no satisfaction, but i try!
O que não pode ser preenchido pelas idealizações que levamos para nossas relações, a gente preenche com VIDA. Trabalho, amigos, hobbies, esportes, religião, arte, criação, meditação…
O meio é a escolha de cada um, em busca da satisfação, que sempre será incompleta. O que vale é a tentativa e fazer o moinho da vida girar!
Uma das tarefas clínicas mais importantes é levar o paciente a encontrar a verdade do seu desejo, que não se revela de forma simples, lógica ou racional.
Faz sentido para você?
Um comentário em “Idealização nos relacionamentos amorosos: “Espere vivendo!””