Lacan, quando fundou a Escola Francesa de Psicanálise, a constitui em três seções: psicanálise pura, aplicada e seção de recenseamento do campo freudiano.
Psicanálise Pura
A psicanálise pura é a prática e “doutrina da psicanálise propriamente dita”. O psicanalista se forma em sua própria análise, estudos e supervisão dos casos. Então, se autoriza a atender os pacientes.
Lacan, já reconhecia os impasses da transmissão desse conhecimento, propondo aos psicanalistas uma crítica interna constante sobre a prática.
Em uma análise, o querer do sujeito será contestado na medida de sua “aproximação do desejo que ele encerra”, e ele deve ser advertido disso. A afirmação de Lacan nos mostra que a psicanálise pura não é, em si mesma, uma técnica terapêutica.
Psicanálise Aplicada
Na Psicanálise Aplicada estão grupos compostos de profissionais, psicanalisados ou não, desde que estejam em condição de contribuir para a experiência psicanalítica através de um diálogo com os termos e estruturas da psicanálise, críticas e experimentações e até mesmo formulações de projetos terapêuticos.
Aqui, abre-se uma porta para que o discurso psicanalítico circule em outros lugares além do consultório.
Seção de recenseamento do campo freudiano
A seção de recenseamento do campo freudiano é destinada a assegurar a atualização dos princípios da práxis analítica, comunicando experiências que esclareçam a função do analista. A ética da psicanálise é a prática de sua teoria.
O ato do analista se define pela pureza dos meios e dos fins e não pelo enquadre
Na base da formação da escola de Lacan há uma abertura ao diálogo e interação dos analistas com outros saberes.
Segundo a psicanalista Judith Miller, não é necessário nenhum setting para que haja a transferência, mas sim que se ponha “em jogo o corpo através da fala interpretante, através desse artifício singular que se assemelha ao amor”. A formalização da transferência, a partir do sujeito suposto saber, de Lacan, constitui o ponto de partida dessa orientação.
Freud convidava o analista a ser sempre novo na abordagem de um novo caso, o que me leva a pensar que a invenção cabe ao analista, tanto no consultório como fora dele.
Pierre Naveau no texto “A psicanálise aplicada ao sintoma”, nos lembra que Lacan “toma os analistas pela mão e os encoraja a sair do inferno, a não ficarem encerrados na obscuridade de seu subterrâneo e a saírem em direção á luz, luz feita de clarões, ou seja, rumo as surpresas, achados e invenções”.
Lacan, ao se despedir de seus ouvintes no final de sua “Alocução”, pergunta: “que alegria encontramos naquilo que constitui nosso trabalho?”
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