Quem nunca quase enlouqueceu por amor?
O amor é uma incógnita e vem sendo pensado desde tempos remotos — pelos filósofos, poetas, pensadores, escritores, psicanalistas — mas principalmente pelos amantes, que desejam desvendar os seus mistérios.
Os poetas falam sobre o amor sem esforço, nem muita contestação. Como Clarice Lispector, bem resume:
“Mas há a vida que é para ser intensamente vivida. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota! Sem nenhum medo. Não mata.”
Quando a gente ama, às vezes nem sabe o porquê. O fato é que o amor romântico, idealizado, a tampa da laranja, a alma gêmea, aquele que nos contam os contos de fada, não existe. Apenas na fantasia.
Não é à toa que todos os contos acabam com o “felizes para sempre” na hora do casamento. E depois? A paixão é cega, entra no emaranhado da fantasia. Mas e o amor?
O amor se constrói, vem com o tempo. Depois, vem o se relacionar, o desmoronar das ilusões que criamos sobre o outro quando estamos apaixonados.
Se relacionar é se haver com que isso que se quer, mas também com o que falta. O amor não completa, mas movimenta.
O que nos leva a fazer nossas escolhas amorosas?
Nossas escolhas, no amor, são fruto das nossas primeiras experiências amorosas — são impressionadas por elas — e estabelecem as diretrizes das nossas relações. Assim, partimos em busca daquilo que nos falta e que pensamos que o outro vai nos dar.
A gente se atrai por alguém supondo que esse alguém, de certa forma, tem algo que nos falta e que almejamos. E quando não encontramos isso no outro, porque ele não nos dá, sofremos.
Nesse sentido, o amor é uma produção narcísica e sempre leva ao impasse. Não se faz um de dois. Não completa. E ainda bem! Tem que ser assim, para que a gente possa ser capaz de lidar com a nossa própria falta e não se alienar na fantasia de que o outro irá preenchê-la.
Quanto mais você se “desaliena” do outro, ou seja, abandona essa ilusão de completude em uma relação amorosa, mais você se trona capaz de se reconhecer.
É o impasse que faz a roda girar?
Os conflitos nos relacionamentos têm muito mais a ver com o não reconhecimento ou o não suportar a própria falta. O curioso é que o que parece mais difícil e doloroso — ver que não completa — é, ao mesmo tempo, o mais libertador!
Se reconhecer como incompleto, assim como é aquele que você ama, é se tornar responsável pelo seu próprio desejo. Um processo que a psicanálise propõe e a cura se dá pelo amor.
“Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer”. Lacan
Essa frase de Lacan tem uma referência a uma passagem do Diálogo de Platão: “Ninguém pode ensinar o que não sabe.” Uma dialética metafórica do amor imaginário, onde o que ama supõe que o outro tem o que lhe falta e o amado supõe, então, que tem algo para dar, sem saber bem o que.
E esse não saber é do inconsciente.
Os atravessamentos inconscientes ligados às nossas escolhas amorosas ajudam a compreender os conflitos e os impasses das relações.
O amor é uma via de mão dupla, mas que leva a nos deparar com o que há de mais profundo em nós. Talvez, a capacidade de amar tenha a ver com o reconhecimento da própria falta.
As relações amorosas podem servir como uma espécie de espelho, uma oportunidade de olhar para si, para o que brilha e reluz, mas também para as suas sombras e seus os fantasmas.
Se quiser falar de amor… entre em contato comigo, vamos conversar!
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