Para a psicanálise, o sonho é realização de desejo, por isso seu conteúdo é tão importante para a investigação do inconsciente do sonhador. Mas de que desejo estamos falando? Daquele recalcado, censurado, que nada tem a ver com a vontade.
O desejo, no dicionário, é assim definido: “aspiração, querer, vontade, expectativa de possuir ou alcançar algo.”
Para a psicanálise, porém, o desejo é esse “algo” — um objeto perdido, que nunca se manifesta de forma direta; um processo inconsciente, um impulso em direção a uma satisfação experimentada no passado, uma tentativa de retorno à experiência que deixou um traço.
E esse objeto perdido, não se trata de uma coisa ou pessoa, mas sim de uma falta. Ainda que algo se realize nos objetos ou nas pessoas, o que ele expressa ou indica é uma falta.
O desejo é uma eterna busca desse objeto perdido, meio nebuloso, que se revela através de pistas, como os sonhos. Para Freud, os sonhos são a realização alucinada de um desejo.
Você tem fome de quê?
O desejo não se revela com clareza, ele deve ser decifrado, e sempre será parcial. Nunca completamente satisfeito. E é inútil a tentativa de calar o desejo, mesmo diante da impossibilidade de plena realização. O que não quer dizer, que ele não possa ser parcialmente satisfeito.
O desejo se manifesta, em busca de alguma forma de satisfação, seja nos sonhos, pensamentos, ilusões, delírios ou fantasias.
Os sonhos nos falam sobre esse sujeito que habita em nós: o sujeito do inconsciente
No prefácio do livro “Arte, literatura e os artistas” (Obras Incompletas de Sigmund Freud), Ernani Chaves diz que “o analista sabe que o sonho contado já não é mais o sonho sonhado. A sua tarefa não é, entretanto, por princípio, nem a de esclarecer, nem a de explicar, muito menos a de compreender, mas sim a de traduzir.”
O sonho deve ser investigado, não interpretado ou compreendido. Seu conteúdo, mesmo que aparentemente sem sentido, nos revela isso que não se quer (ou não se pode) satisfazer. A sua investigação, na análise, ajuda o sujeito a se tornar responsável sobre o seu desejo, e não seu escravo.
O desejo é aquilo que a gente tem de mais nosso, de mais singular. E uma das tarefas clínicas mais importantes é levar o paciente a encontrar a verdade do seu desejo, que não se revela de forma simples, lógica ou racional.
Faz sentido para você?